quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Há 162 anos, cólera matava centenas de pessoas em Campos

Vítimas da epidemia de Cólera passaram a ser sepultadas no Cemitério do Caju
No dia 26 de outubro de 1855 (há 162 anos), as vítimas da epidemia de Cólera passaram a ser sepultadas no Cemitério Público (hoje Cemitério do Caju), pois os cemitérios das igrejas e o do Quimbira (hoje Faculdade de Medicina) já não comportavam mais sepultamentos. Até o fim daquele ano morreram 1.349 pessoas na cidade, 444 em Guarus e 42 escravos na Fazenda do Colégio.

CÓLERA MORBO
Em julho de 1855, um intenso surto de cólera morbo tomou conta da cidade do Rio de Janeiro, e após dois meses a situação fica calamitosa, devastando a população, superlotando isolamentos e cemitérios. A doença havia chegado ao porto do Rio de Janeiro, no dia 18, quando o navio Imperatriz, aportara com passageiros e tripulantes contaminados pela doença; para atendê-los o governo adquiriu um prédio em Jurujuba, num sítio chamado Várzea, nascendo aí o Lazareto da Várzea, que após uma década de serviços prestados, junto com o Sanatório Jurujuba, foi cedido ao Serviço de Saúde do Exército para receber combatentes da Guerra do Paraguai, no tratamento de doenças infecto-contagiosas.
Atendendo a sugestão da Junta de Higiene, o governo organizou o Lazareto Flutuante, em 1876; um navio especialmente adaptado, com acomodações e instalações necessárias ao isolamento de passageiros vindos de portos suspeitos ( africanos e asiáticos ). Essee navio ficava fundeado a 600 metros do Hospital Marítimo Santa Isabel, e tão logo ficasse constatada a doença, o passageiro era transferido para o hospital de isolamento.
A Europa e a Ásia , em 1886, passavam por um grande surto de cólera, e o governo para prevenir-se, adquiriu a Fazenda dos Dois Rios, na enseada do Abrahão, na Ilha Grande, e adaptou as suas dependências, construindo pavilhões e suprindo todas as necessidades para um hospital de isolamento, nascendo assim o Lazareto da Ilha Grande .
A eclosão da primeira grande epidemia de febre amarela do Rio de Janeiro, a inoperância da Câmara Municipal e a ineficiência dos médicos tradicionais, incitou a criação em 5 de fevereiro de 1850 da Comissão Central de Saúde Pública, composta por membros da Academia Imperial de Medicina, da Faculdade de Medicina e da própria Câmara, que com um plano de supervisão em áreas e em indivíduos contaminados, acabou controlando a doença, e presunçosamente a considerou extinta em setembro de 1850. Nascia uma nova prática na medicina brasileira, a medicina preventiva.
Para a execução da medicina preventiva, criou-se a Junta Central de Higiene Pública, em setembro de 1851, incorporando-se a estes estudos novos elementos, como o contexto urbano, devido a grande concentração de pessoas, o saneamento básico para atender a esta população, a geografia e a economia local, responsável não só pela degeneração da saúde como da moral e bons costumes.
Estudou-se primeiro a geografia da cidade, situada em zona tropical, numa planície baixa e pantanosa entre o mar e as montanhas, o que a tornava úmida e calorenta; em segundo viu-se o aspecto urbano da cidade, tendo como alvo principal as habitações coletivas, onde não haviam canos, escoadouros ou latrinas e havia a maior concentração de parte da população .
“Corpos são enterrados nas igrejas localizadas no centro da cidade: 
animais mortos são encontrados nas ruas, por todos os lados existem monturos, 
cloacas, vasilhas de despejo de urina, currais.
Matadouros, açougues, mercados de peixe, armazéns de carne seca, 
toucinho, queijo, depósitos de azeite de peixe são perigosos, tanto para o ponto de 
vista da integridade dos alimentos como por serem potenciais corruptores de ar.
Fábricas, hospitais e prisões se igualam na ausência de regras higiênicas e 
disciplinares (...) as ruas são estreita e tortuosas, dificultando a renovação do ar e 
a circulação dos veículos, além de serem utilizadas como lugares de despejos de 
lixo. As praias são imundos depósitos de fezes e lixo. As praças são poucas e mal 
cuidadas, sem árvores, cheias de poças e uma cidade devia ser idêntica à relação 
do pulmão com o corpo”. 
( Benchimol , 1992:11}
  
A medicina preventiva pregava, devido a tudo que foi explanado, a remodelação da cidade do Rio de Janeiro; os médicos que participavam destes projetos eram considerados médicos higienistas e praticantes da medicina social, pelo fato de terem poder de influência em diversas instituições do Estado, as reformas clamadas pelos médicos higienistas, compreendiam: a expansão urbana da cidade para os bairros mais distantes, a construção de casas higiênicas, o alargamento e aberturas de ruas e praças, a arborização, a instalação de uma rede de esgoto e água, a manutenção e asseio em mercados e matadouros, a criação de lugares próprios para despejos etc... .
Evolução da mortalidade no Rio de Janeiro, entre 1850-1870.
“Chama logo atenção a mortalidade em 1850, comparada à dos anos 
anteriores. O brusco aumento deveu-se à epidemia de febre amarela (...). O 
aumento rápido da entrada de escravos às vésperas da extinção do tráfico, 
portadores de moléstias como bexigas e desinterias pútridas ( das quais morriam 
as dezenas ) contribuiu também para aumentar a mortalidade daquele ano. A 
oscilação da mortalidade entre 1851 e 1854 pode ser atribuída ainda à febre 
amarela que nunca deixou de agir ( ... )
Em 1855, o Rio de Janeiro foi assolado, pela primeira vez, pela epidemia 
de cólera-morbo com 4.828 vítimas ( ... ). Tornou a cair o número de óbitos em 
1856 ( ... ). A mortalidade manteve sua tendência ascendente entre 1857 e 1860, 
oscilando anualmente em função da violência da febre amarela. Em 1861 e 1864 a 
proporção sofreu uma queda, tornando a elevar em 1865, em virtude de uma 
imensa epidemia de varíola e de outras moléstias decorrentes da aglomeração das 
tropas com destino ao Paraguai. Depois decresceu até 1869, apesar de , em 1867 a 
1868, a cólera-morbo haver grassado novamente.
A mortalidade dos escravos, que regula em mais de um terço da dos libertos 
e livres, tendeu a decrescer sensivelmente nos últimos anos, o que demonstra a 
forte redução dessa população após a extinção o trafico, visto que era muito 
reduzido o número de nascimentos.
A proporção da mortalidade entre os dois sexos é maior nos homens que 
nas mulheres, em função da maior imigração de população masculina e da 
população flutuante típica dos portos comerciais ( ... ).”
Essas idéias emitidas em 1850, cresceram em 1870, tornando-se senso comum nas classes dominantes e nas camadas médias, já formadoras de opinião pública, porém só vieram a serem efetivadas com a reforma de Pereira Passos, em 1903.
As medidas da medicina social , não se limitavam apenas a higienização da sociedade, mas também a normalização da prática médica e a institucionalização das Faculdades de Medicina.

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